Nascida na Itália, Maria Bonomi (76 anos) é gravadora,
escultora, pintora, muralista, figurinista,
cenógrafa e professora.
Entre gravuras, instalações e projeções de imagens
de trabalhos feitos em espaços públicos pelo Brasil,
a mostra, sob curadoria de Jorge Coli,
faz um panorama da obra da artista ítalo-brasileira
com obras datadas desde a década de 1950
até a atualidade
Arte política e o universo feminino são alguns
dos elementos de inspiração utilizados pela artista,
que exibe 270 obras e 20 esculturas inéditas,
além de pinturas realizadas ainda na infância.
Aprendiz de Lívio Abramo na arte da gravura,
Bonomi se dedicou à litografia, xilografia, calcografia,
além de fazer esculturas e instalações.
Entre as grandes obras de arte pública de sua autoria
está o edifício Jorge Rizkallah Jorge,
esquina da Avenida Paulista com a Rua Bela Cintra,
em São Paulo.
Bonomi ainda trabalha com cenografia
de peças teatrais,
arte com que teve o primeiro contato
quando se casou com o dramaturgo Antunes Filho.
Maria Bonomi provou ser possível
a qualidade nos grandes formatos
e a capacidade do artista em expressar
e registrar a linguagem corporal.
É uma artista urbana com sensibilidade
pelas questões da metrópole.
A Ponte
O ato gravador de Maria Bonomi
é feito de liames, de laços, de passagens,
que não respeitam ou se acomodam
em definições de gênero artístico.
A palavra ponte
(título de uma de suas últimas obras)
exprime bem a ideia de travessia
entre margens de outro modo inaccessíveis.
Encontramos o caráter primordial dessa arte
entre as formas impressas no papel
e na enorme parede,
entre os talhes da madeira e do cimento,
entre a superfície e o relevo,
entre a gravura e a arte pública.” Jorge Coli
Diante dos trabalhos,
Maria Bonomi desfia o que pensa sobre sua arte:
- "gravura para mim não é técnica,
é linguagem de expressão artística.
A matriz é a grande obra,
onde você coloca o seu gestual" –.
Sobre o mercado brasileiro:
"O eixo Rio-São Paulo é bem menos independente
das imposições comerciais do que se pensa" .
E sobre as relações entre poder e arte:
"Falta arte pública
para as pessoas verem na rua, sem pagar".
Ali está,
como diz o curador da mostra, Jorge Coli,
uma artista cuja obra se equilibra
em duas grandes vocações:
a artesanal, ligada à forma como produz,
e a social, ligada
a como as obras se relacionam com a sociedade.
Na sala feminina, chamada Útero,
é impossível não relacionar os pequenos quadros
que Maria pintava quando ainda tinha 15 anos,
como "Fugindo da escola",
com as ilustrações que a artista fez para o livro
"Ou isto ou aquilo", de Cecília Meireles (1964),
as gravuras das séries "Medusa" (1997)
e "Hydra" (2001) e o recentíssimo "Paris Rilton",
uma escultura oval em bronze interativa.
Abrindo pedaços da obra,
o visitante acha objetos de consumo feminino,
de boás a sapatos de salto alto.
- Eu criei a obra especialmente para a mostra
porque precisava criticar essa idiotização da figura feminina,
relegada a um consumismo desenfreado
estimulado pela propaganda preconceituosa - diz ela.
Balada do Terror
“Esta mostra é a mais completa até hoje realizada
sobre a arte de Maria Bonomi.
Reuniu um número elevado de obras,
não tanto para traçar um percurso cronológico
(embora muita produção de juventude esteja presente,
várias das quais nunca expostas até agora),
mas para revelar a permanência de suas preocupações
e os laços que as une.
Maria Bonomi diz que evita rotinas -
faz apenas pilates e corre na esteira três vezes por semana -
porque tem "um tempo longo de criação".
-“ Eu nunca acabo os trabalhos.
As obras têm que ser tiradas de mim” – comenta.