sexta-feira, 29 de junho de 2012

VIK MUNIZ : PROJETO PAISAGEM

 

image

 

Vik Muniz novamente  transformou lixo em arte, só que desta vez a matéria prima foi uma contribuição do público da Rio+20: “Paisagem”, um painel sobre a Baía de Guanabara, feito a partir de material reciclável.

Entre os dias 15 e 22 de junho, o público  levou produtos recicláveis, como garrafas plásticas ou latas de alumínio , à tenda em que foi instalada a obra, localizada entre o Museu de Arte Moderna (MAM) e o  aeroporto Santos Dumont, no Aterro do Flamengo.

Vik projetou no chão uma fotografia que fez da Baía a partir do Mirante Dona Marta, em Botafogo, em 2009.

O desenho com 25 metros de largura ficou numa tenda com nove metros de pé direito e uma passarela, instalada a quatro metros do chão, permite aos visitantes a vista completa do desenho, que, como define Vik, “não é uma exposição, mas um processo em que a paisagem é criada pelas pessoas”.  

.

clip_image001.

  Quando o visitante entra na tenda , vê a seguinte mensagem na porta: "O homem se relaciona com o meio ambiente através da paisagem". Vik Muniz explica: “A paisagem é como o homem internaliza a natureza. Nós possuímos certas limitações de sentidos que fazem com que o meio ambiente assuma um aspecto simbólico e linguístico e possa ser compreendido. Acho que a ideia de você criar uma situação onde você pode lidar com aspectos dessa discussão de uma outra forma, cria uma possibilidade de você começar a entender que existem alternativas. Até para liberar e abrir um pouco a cabeça para achar outras formas de discutirmos isso”.

Outros comentários de Vik Muniz:

“A ideia de você criar uma construção a partir de um material, cuja estética, pela associação ao significado do lixo, já está muito poluída, já impregna tudo que não é usável. Você pegar aquilo e fazer uma coisa bonita, você já está recarregando o potencial desses materiais com a promessa de reutilização. Quase tudo é reutilizável”.

“ Você poder fazer disso uma proposta interativa, e trabalhar com pessoas, ao invés de falar: 'olha só que lindo o que eu fiz', é bastante prazeroso. E também não é muito difícil fazer, você abre o processo a todo mundo, é um truque que eu uso. Você coloca o público dentro do estúdio. É uma situação bastante única, geralmente o artista reserva para si o mérito da feitura. Nesse caso, eu acho muito mais interessante que seja uma experiência mais comum, que todo mundo faça parte, e que eu esteja ali apenas como uma espécie de facilitador”.

“A sensação mais importante de todo o aspecto artístico,  é a sensação de transformação, você vê uma coisa virar outra coisa. A gente não dá muita bola quando está vendo uma pintura, por exemplo, e você vê o arranjo daquela substância, que é de origem animal, ou mineral, vegetal, que são os pigmentos, os olhos, o que entra dentro da pintura. Naquele arranjo você vai ver um retrato, ou uma natureza morta. Nesses casos, você não consegue sentir o processo de transformação. Aqui, a metáfora é duplamente importante. Você está transformando uma coisa em outra usando elementos, cuja natureza, como material, já te possibilita essa transformação. A garrafa pet, a lata de alumínio, tudo que está aqui pode ser transformado de outra forma. Todo esse material que está aqui pode dar vida a milhões de outras paisagens”.

“O interessante é que você está fazendo o retrato da cidade dentro dela. É o símbolo dentro do símbolo. Quando você está falando de meio ambiente parece que a gente está falando da natureza que está lá fora. Às vezes dificulta o pensamento e a cognição, de você falar de um sistema dentro dele. É uma proposta lógica bastante complicada. A gente quer trazer este paradigma para dentro desta situação. A cidade sou eu quem faço, é uma experiência para meditar um pouco sobre o símbolo da cidade, como ela pode ser executada”.

 

clip_image001[4]

A imagem da Baía de Guanabara, projetada no chão, começa a ganhar forma. Eduardo Naddar

 

Image-941-584x390

Produção da imagem da Baía de Guanabara com lixo reciclável doado pelo visitantes da Cúpula dos Povos.

 

O "Projeto Paisagem" é uma espécie de cartão postal reciclável, uma mensagem para chamar a atenção para o descarte irresponsável destes materiais no meio ambiente.

André Naddeo: “Se a internet é o palco da interatividade, no mundo artístico a participação popular atende pelo nome de Vik Muniz”.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

OSWALDO GOELDI: SOMBRIA LUZ no MAM

 

 

O MAM está apresentando uma exposição dedicada à obra de Oswaldo Goeldi (1895-1961), considerado o expoente do expressionismo no Brasil. Também no MAM, a mostra “O ateliê de Goeldi” exibe seu espaço de criação no Leblon,  instrumentos de trabalho e objetos pessoais.

Na maior mostra já feita sobre o artista carioca encontram-se gravuras e desenhos produzidos por ele a partir da década de 20 – “momento em que Goeldi se tornou Goeldi”, como define o curador Paulo Venâncio Filho.

Nesses trabalhos, é possível identificar diferenças entre ele e os outros expressionistas. “Goeldi usa elementos mínimos, não é panfletário nem sentimental; suas obras têm certa sobriedade”, observa o curador. “Ainda assim, explora temas recorrentes entre os artistas do movimento, como a tensão entre a vida e a morte”.

Oswaldo Goeldi nasceu no Rio de Janeiro em outubro de 1895 e morou em Belém do Pará, às margens do Amazonas, até os seis anos de idade.

  clip_image001

 

Em 1901 vai com a família para Berna,  capital da Suíça, terra de seu pai, o naturalista Emílio Goeldi.

Inicia sua vida artística sob a escura atmosfera da I Grande Guerra. A morte será um tema recorrente em toda sua produção.

 

O MAM estreia nesta sexta-feira (15) a maior retrospectiva do expoente do expressionismo no Brasil Oswaldo Goeldi (1895-1961) Leia mais

  

Em entrevista a Ferreira Gullar (ARTES PLÁSTICAS - Jornal do Brasil. 1957. 12. 1. Suplemento Dominical)      Goeldi declara:

“Em 1919 vim para o Brasil, com minha família. A paisagem brasileira me pareceu estranha, era como se eu nunca houvesse estado aqui. Procurei então assimilar as formas que, com a minha ausência, tinham mudado de fisionomia e de expressão. Desenhei muito para me assenhorear das formas, ambientes, do novo mundo visual que ia ser a matéria de minha expressão. O que me interessava eram os aspectos estranhos do Rio suburbano, do Caju, com postes de luz enterrados até a metade na areia, urubu na rua, móveis na calçada, enfim coisas que deixariam besta qualquer europeu recém-chegado. Depois descobri os pescadores e toda madrugada ia para o mercado ver o desembarque do peixe e desenhava sem parar”.

 

clip_image003

 

 clip_image002

 

002009007019

 

Goeldi - Garça

 

Outros trechos da mesma entrevista:

“Toda gravura minha é desenhada muitas vezes, tomo apontamentos e só muito depois, às vezes anos, nasce a gravura“.

“Estava saturado do preto-e-branco e procurei a cor. Inicialmente fiz umas aquarelas e depois tentei passar para a gravura. Nas primeiras gravuras em que usei a cor, usei-a com um sentido diferente, meio simbólico, meio fantástico, como na gravura do guarda-chuva vermelho e na do siri vermelho, entre outras. Nessa fase cheguei a fazer gravuras em policromia, com sete, oito cores e tons diferentes. Foi então que reparei que me aproximava da estampagem”.

 

clip_image006

 

Samsung

 

“Há quem condene a gravura em cores.
Lembro-me que um crítico italiano - parece que Pallucchini - declarou que gravura tinha que ser mesmo em preto e branco, gravura em cor era desvio. Discordo dessa opinião. Tudo depende da aplicação que se faz na cor. Quando bem aplicada, a cor não prejudica a gravura, antes a enriquece, como no caso dos japoneses, de Gauguin e de Munch. Pallucchini talvez tenha dito aquilo pensando nas experiências feitas pelos alemães, há algum tempo, cujo resultado foi fragoroso: faziam uma estampagem pesada, com linóleo, que parecia mais pintura que gravura”.

“ Há gravadores que parecem se contentar com o preto e o branco extraindo deles ricos efeitos.
Pode-se com o preto atingir efeitos de policromia mas isso não quer dizer que a gravura esteja obrigada a esses elementos. Com a cor consegue-se ótimo resultado. É certo que nem toda técnica recebe bem a cor. Ela fica melhor na lito e na xilo”.

“Nunca poderia fazer uma gravura abstrata. Sempre quero expressar alguma coisa que é anterior às formas que gravarei, que envolve um sentimento qualquer de angústia, de solidão ou de fantástico. Não gravo diretamente, desenho primeiro sobre a chapa, dispondo as zonas de cor, de massa preta, os brancos, e só gravo mesmo quando considero que a idéia está clara, e então gravo dum arranco do começo ao fim”.

Goeldi será sempre um observador que segue colecionando seus segredos, para revelá-los pouco a pouco : peixes, cidades e urubus, abandono e solidão.

 

O MAM estreia nesta sexta-feira (15) a maior retrospectiva do expoente do expressionismo no Brasil Oswaldo Goeldi (1895-1961). Entre os destaques, a xilogravura "Rua", de 1938 Leia mais

 

clip_image007

 

clip_image008

 

 O tema urbano, tão caro aos artistas modernos, em Goeldi, conta a história, não apenas do Rio de Janeiro, mas de qualquer cidade industrializada.

 

clip_image009

 


 

 

 

 

Em sua obra, Goeldi fala sobre a experiência de habitar lugares que não acolhem, sobre a solidão, a incomunicabilidade, o desajuste e o esquecimento.

 

O MAM estreia nesta sexta-feira (15) a maior retrospectiva do expoente do expressionismo no Brasil Oswaldo Goeldi (1895-1961). Entre os destaques, está a obra "Sonâmbula" (sem data) Leia mais

 

 

O MAM estreia nesta sexta-feira (15) a maior retrospectiva do expoente do expressionismo no Brasil Oswaldo Goeldi (1895-1961) Leia mais

 

Nas palavras de Paulo Venâncio Filho, “meio século após sua morte, a obra de Oswaldo Goeldi ainda desafia os clichês que retratam o Brasil como uma espécie de paraíso tropical. Com os recursos limitados da xilogravura e do desenho a lápis ou carvão, mostrou que sob a luz solar havia um mundo em desassossego e desajuste”.

“Este singular expressionista deslocado nos trópicos, que encontrou em Alfred Kubin – com quem se correspondeu – um amigo e admirador, vislumbrou, especialmente na paisagem urbana do Rio de Janeiro, a condição trágica do homem moderno; seu isolamento, sua solidão, sua disjunção com o real. Através da simples oposição entre luz em sombra da xilogravura, com uma economia mínima de elementos, revelou um mundo subterrâneo, às vezes fantástico, às vezes sinistro e ameaçador, e não menos verdadeiro.”

 

Ivan Claudio  comenta: “Quem contempla a obra sombria do artista plástico Oswaldo Goeldi (1895-1961) não imagina que ele a produziu na ensolarada cidade do Rio de Janeiro.”

 

Oswaldo Goeldi: sombria luz (Grande Sala) e O Ateliê de Goeldi (Sala Paulo Figueiredo). Até 19/08, ter. a dom. das 10h às 17h30. Museu de Arte Moderna de São Paulo, Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3. R$ 5,50 (entrada franca aos domingos). Agendamento de visitas: 5085-1313 e email educativo@mam.org.br. mam.org.br  

 

domingo, 3 de junho de 2012

EXPOSIÇÃO DE RENATA CRUZ NO DCONCEPT

 

Classificação por Espécies, individual de Renata Cruz, apresenta  parte da produção de desenhos e aquarelas da jovem e promissora artista paulista.

 

 

 

 

  Organizada no exíguo espaço da sala-garagem do dconcept,         encontra-se uma coleção de desenhos e de objetos de valor simbólico.

 

982


Na parede ao fundo estão reunidos, em três linhas paralelas, 30 desenhos de objetos, em tamanho real sobre papel A4, que Renata produziu nos dias do mês de maio de 2011 como parte do projeto “Um desenho por dia”.

 

untitled

 


A chave para a compreensão da obra da artista se encontra numa vitrine, no centro da saleta : objetos de pequeno porte que ela coleta entre amigos, ou entre desconhecidos, em projetos como “Quatro semanas de objetos estabilizadores” (SESC), quando  percorreu cidades do Interior do Estado de São Paulo trocando brochuras artesanais por objetos de desconhecidos. Se num primeiro momento eles serviram de motivo para o exercício diário de desenho, “para não perder a mão”, como diz a artista, organizados em seis caixas esses objetos ganham novo sentido.

 

piracicaba


Nas demais paredes estão as séries Encontro Marcado, em que a artista exibe imagens de objetos doados por amigos com frases  a eles relacionados e também desenhos, onde objetos de desconhecidos são apresentados ao lado de páginas abertas de livros.

 

brochura santander 004

 

“O uso de frases soltas que compõem os desenhos de objetos de Renata Cruz não passará despercebido pelo público que visitar sua exposição. Retiradas de obras literárias e desmembradas pela artista, a colagem de frases nas páginas das brochuras parece igualar-se a poemas em prosa”.

RED_5

“Escapou do tempo. É um sobrevivente” – são frases que acompanham os desenhos de uma garrafa de refrigerante vazia e uma folha de árvore seca.

RED_7

“O mesmo ocorre com os objetos que a artista recebe de suas trocas: por um objeto pessoal de valor simbólico, ela oferece uma brochura com desenhos de objetos da mesma natureza, intercambiados em outras ocasiões. As brochuras acabam sendo a moeda de troca por meio da qual a artista recebe objetos aparentemente sem valor, mas que não são outra coisa que a matéria prima de seu trabalho. E os desenhos, afiliados ao seu procedimento de trabalho, são meios que o aproximam da esfera relacional da arte, transformando o espectador em participante-ativo, como dizia Hélio Oiticica”.

 

RED_1

 

“A artista fundamenta seu modo de relacionar-se com a arte e seus interlocutores, transformando objetos corriqueiros na ferramenta que engendra ações subjetivas e agregando valor a cada peça inserida em sua coleção. Instaura-se nesse momento a possibilidade de burlar convenções, redefinindo tanto o ato de relacionar-se com o outro, quanto códigos de conduta instituídos”.

RED_4

 “Enquanto coleciona objetos e frases que chegam até ela por meio da troca ou apropriação, Renata Cruz arquiteta bases sólidas para sua relação com a arte. É preciso pensar na organicidade do mundo e na ressignificação da sintaxe para adentrar sua maneira de atuar no mundo da arte”.

Comentários do crítico Josué Mattos

 

Renata Cruz é graduada em Comunicação Visual pela Unesp de  Bauru e em Belas Artes pela Universidad Autónoma de Madrid, Espanha. Tem pós-graduação em Arte Integrativa pela Universidade Anhembi Morumbi. Sua formação artística inclui curso livre de gravura no MAC USP, de pintura com Hildebrando de Castro, acompanhamento de projetos com o artista Osmar Pinheiro e com o critico Josué Mattos. Desde 2005 vem participando de mostras coletivas com o Ateliê Fidalga, coordenado pelos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso, e com o grupo Aluga-se.


Serviço:
Classificação por Espécies, mostra individual da artista Renata Cruz
Período expositivo: de 04 a 30 junho de 2012
dconcept escritório de arte
Alameda Lorena, 1.257, G1 (Vila Flávio de Carvalho)
01424-001 - Jardim Paulista, São Paulo - SP
Horários: de segunda a sexta-feira, das 14 às 20 horas
Tel. (11) 3085 5006
www.dconcept.net
Entrada gratuita e livre