segunda-feira, 17 de agosto de 2015

EXPOSIÇÃO: FRIDA KAHLO _ CONEXÕES ENTRE MULHERES SURREALISTAS NO MÉXICO

 

Com a inauguração, em 27 de setembro, da exposição “Frida Kahlo - Conexões entre Mulheres Surrealistas no México”, no Instituto Tomie Ohtake, de São Paulo, o público poderá não só contemplar o universo da pintora mexicana Frida Kahlo (1907 - 1954), como também, apreciar aspectos da vida e produção de outras 15 importantes artistas, entre elas  Maria Izquierdo, Remedios Varo e  Lenora Carrington.

 

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Frida deixou um grande legado para o mundo com suas pinturas. Símbolo da força e independência do universo feminino, a artista Mexicana estava muito à frente de seu tempo e, apesar de todos os percalços (como muitos problemas de saúde e um casamento conturbado), continuou a apresentar-se sempre animada e cheia de vida.

 

 

Os sete autorretratos da mexicana revelam o máximo de seu universo simbólico. Em um deles, de 1943, a pintora retrata-se rodeada de pequenos macacos - e, como diz a curadora Teresa Arcq, “os chimpanzés sempre representaram o erotismo na obra da artista”.

 

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Frid aceitou aspectos de seu corpo que fugiam muito aos padrões da época — especialmente a sobrancelha unida e o buço. 

 

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Frida também teve grande influência para a moda,  impondo seu próprio estilo. Adotou as longas saias, no estilo tehuana, da região de Oaxaca, no Sul do México, sempre muito rodadas e coloridas. Se por um lado, elas camuflavam seus problemas físicos (esconder que tinha uma perna mais curta que a outra, sequela da poliomielite que teve na infância),  por outro lado, eram a forma encontrada por Frida para manter o bom humor e para continuar se sentindo feminina. As saias eram combinadas com corseletes e até com coletes de gesso, que precisava usar por causa dos problemas na coluna, resultantes de um acidente de bonde aos 18 anos. Os bordados coloridos, as flores delicadas, as rendas e as tranças, que lhe conferiam um visual alegre, foram sendo cada vez mais incorporados à medida que seus problemas de saúde se agravavam e sua dor aumentava. Essa marca pessoal acha-se também refletida em sua pintura, que segue o mesmo padrão de cores primárias.

As doenças e os acidentes deixaram-lhe sequelas que a obrigavam a usar coletes ortopédicos, que aparecem em vários quadros, como “A Coluna Partida”, de 1944.

 

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A COLUNA PARTIDA

Diferentemente de muitos artistas de renome, que desde pequenos mostram uma aptidão para a pintura, Frida não começou a pintar cedo. Foi num período de convalescência  que, usando um cavalete adaptado à cama e a caixa de tintas de seu pai, Guillermo, Frida começou a pintar Não foi apenas com a pintura que o pai influenciou seu trabalho.  Guillermo era fotógrafo profissional e tinha o curioso hábito de se fotografar, algo que a filha levou mais tarde para seus quadros. Ao longo de sua carreira, Frida pintou diversos autorretratos, sempre colocando na tela seus problemas, seu cotidiano, seus temores e seus amores.

 

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Frida estava sempre envolvida em política — ela era ligada ao Partido Comunista Mexicano, onde inclusive conheceu o muralista Diego Rivera, de 43 anos, com quem se casou por duas vezes. A primeira vez, em 1929 aos 22 anos. Os dois viveram um relacionamento tempestuoso e cheio de reviravoltas – mas Frida era perdidamente apaixonada pelo marido.  Resolve se separar, contudo, ao descobrir que ele mantinha um relacionamento com sua irmã mais nova, Cristina. Isso não impediu, porém, que eles se casassem novamente, seguindo o mesmo padrão de relacionamento turbulento.

Diego Rivera também influenciou o estilo de Frida, que passou a adotar cores básicas em grandes extensões, num estilo naïve.

 

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Em 1950, Frida amputou uma perna e, em seguida, entrou em depressão. Nessa época, pintou suas últimas obras, como Natureza Morta (Viva a Vida) e  morreu no dia 13 de julho de 1954.

O projeto da exposição “Frida Kahlo - Conexões entre Mulheres Surrealistas no México” é muito complexo. Até o momento, estão confirmadas 19 pinturas e 13 obras sobre papel de Frida Kahlo para a mostra. Orçada em R$ 9,5 milhões, a exposição traz uma centena de obras de trabalhos emprestados de 48 coleções privadas e particulares. Apresenta também a oportunidade de o Brasil receber trabalhos de surrealistas reconhecidas, mas ainda não muito populares.

"O diálogo das artistas é temático", explica Teresa sobre o conceito da mostra. “A prática da autorrepresentação feminina entre as 16 surrealistas apresenta-se como uma questão importante, e, na sequência das obras, será possível comparar quão distinto pode ser o olhar de cada uma para si”.

 

 

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Leonora Carrington

 

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Maria Izquierdo

 

Remedios Varo

“Deve-se também ressaltar o tema do exílio como um dos pilares da mostra. Muitas das participantes de “Frida Kahlo - Conexões entre Mulheres Surrealistas no México” escolheram, afinal, viver no país latino-americano que, depois da Revolução Mexicana, em 1910, tornou-se um território de efervescência política e cultural”.

 

Instituto Tomie Ohtake
http://www.institutotomieohtake.org.br

De 27 de setembro a 10 de janeiro de 2016

De terça a domingo, das 11h às 20h
Entrada R$ 10 (grátis às terças-feiras)
Rua dos Coropés, 88
Pinheiros – Oeste São Paulo
(11) 2245-1900
Estação Faria Lima Via Quatro

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

CASSIO LOREDANO em RIO, PAPEL E LÁPIS

 

 

O cartunista Cássio Loredano lança livro e também abre exposição com suas paisagens favoritas

O cartunista Cássio Loredano lança livro e também abre exposição com suas paisagens favoritas

 

O livro Rio, papel e lápis, que o Instituto Moreira Salles (IMS) lançou dia 8 de agosto, reúne 62 retratos do Rio de Janeiro feitos por Loredano.  O cartunista traçou um roteiro que começa na Capela de Nossa Senhora da Cabeça, nos arredores do Jardim Botânico, passa pelo centro histórico da cidade e termina na Ponte dos Jesuítas, na Zona Oeste.

Cássio Loredano é um andarilho, que se desloca pelo Rio de Janeiro , ou recorre ao transporte público. Das janelas do ônibus, ele admira a Cidade Maravilhosa. “Eu gosto do barroco colonial que o mestre de obra português nos deixou”. Às vezes, pega metrô – mas se ressente por não poder apreciar a paisagem. “Bom mesmo é o “expresso canelinha”, brinca o caricaturista, que anda longas distâncias com frequência: os 7 quilômetros de Laranjeiras, onde mora, ao centro do Rio, por exemplo, ele faz em cerca de meia hora. “Mas não sou flâneur, que é o cara que vai seguindo a folha de papel que o vento empurra. Ando rápido. Gosto de andar pelas calçadas para ver as moças e as fachadas.”

Suas andanças resultaram no livro Rio, Papel e Lápis, e na exposição homônima que o Instituto Moreira Salles (IMS) abriu neste sábado, 8, em seu centro cultural na Gávea. O instituto encomendou-lhe as ilustrações, tendo como mote os 450 anos do Rio. Pediu 50, recebeu 61. É que Loredano é um apaixonado pela sua cidade: “Morei muitos anos em São Paulo, mas quando estava andando na rua, na Europa, era pela Avenida Mem de Sá (na Lapa) que eu andava”. Seus desenhos são um convite ao passeio: “Meu livro apresenta vários lugares que estão escondidos, mas que merecem ser visitados”. 

 

Avenida Presidente Vargas e a Igreja de Nossa Senhora da Candelária  (Foto: Cássio Loredano )           2 | O ALTAR _ A Avenida Presidente Vargas e a Igreja de Nossa Senhora da Candelária. Ponto lembrado pela violência e pelos casamentos (Foto: Cássio Loredano )

 

Chaminé do Catumbi e o Morro da Coroa  (Foto: Cássio Loredano )           3 | SOLIDÃO _ A Chaminé do Catumbi e o Morro da Coroa. Não sobrou quase nada do bairro antigo, que abrigava uma refinaria de açúcar (Foto: Cássio Loredano )

 

Castelinho de Santa Teresa, no Rio de Janeiro  (Foto: Cássio Loredano )             4 | IMPÉRIO _  A imponência do Castelinho de Santa Teresa. Ele foi construído no século XIX por um comendador português (Foto: Cássio Loredano )

 

Avenida Passos, uma homenagem ao prefeito Pereira Passos  (Foto: Cássio Loredano )              5 | PASSEIO _ A Avenida Passos, entre as ruas Buenos Aires e Luís de Camões. Uma homenagem ao prefeito Pereira Passos, que redesenhou as ruas do Rio (Foto: Cássio Loredano )

 

Mapa do Rio de Janeiro com as localizações de cada ilustração feita por Cássio Loredano  (Foto: época )

 

Andanças do caricaturista resultaram no livro Rio, Papel e Lápis, e na exposição homônima que o Instituto Moreira Salles

PRAÇA  XV e ARCO do TELES

Loredano escolheu não praias e montanhas que fizeram a fama da cidade, tampouco o Pão de Açúcar ou o Cristo Redentor. Usou grafite, nanquim, esferográfica e aquarela para dar forma a igrejas, prédios públicos, monumentos, pontos comerciais e sedes de times de futebol. É o Rio edificado que capta o olhar desse carioca, que já morou na Alemanha, França, Itália e Espanha.

“O carioca passa pelos Arcos da Lapa como se fosse a coisa mais natural do mundo um aqueduto romano no meio da cidade”.

 

ROMA É AQUI Os Arcos da Lapa e o Convento de Santa Teresa, no alto do morro. Um aqueduto no coração de uma metrópole tropical (Foto: ilustração: Cássio Loredano)

ARCOS da LAPA e o CONVENTO de SANTA TERESA

 

“Não fico olhando para o Pão de Açúcar, e sim para o Real Gabinete Português de Leitura. “À praia eu não vou, nem sei nadar. Fico no quiosque bebendo cerveja. Como diz o (cartunista) Jaguar, intelectual não vai à praia, intelectual bebe. Quando brincam que eu sou moreno porque frequento praia, respondo que pego sol andando na rua.”

Ele teve um ano para realizar o trabalho: os desenhos e os pequenos textos que os acompanham no livro. A perspectiva é a de quem vê as paisagens da calçada. Em nenhuma das imagens aparece a figura humana. “Não tem gente para que não se desvie o olhar do que é essencial aqui, que são as fachadas: veja a Biblioteca Nacional, como é linda.” Não reproduziu fielmente o que viu, mas o que lhe interessava sublinhar. O Teatro Municipal aparece sem vizinhos, tendo apenas à sua direita o prédio onde ficava o bloco carnavalesco Cordão da Bola Preta. “Lembro de ir ao teatro e, no intervalo, escutar a gafieira que vinha de lá”, diverte-se. Na Rua Primeiro de Março reproduz apenas os adornos da fachada da Igreja da Ordem Terceira do Carmo; a igreja ao lado, que considera feia, ficou só no contorno.

 Sua admiração pela cidade do Rio de Janeiro fica clara nos desenhos sobre o centro, que foi a primeira região urbanizada da cidade, no século 16, e concentra também arranha-céus. A Igreja de Santa Luzia, do século 18, convive com o Palácio Capanema, símbolo do modernismo dos anos 1940, e edifícios mais recentes; a centenária Igreja do Carmo da Lapa também é vizinha de prédios altos; o Real Gabinete, construído em 1887, tem à frente a escultura do artista Franz Weissmann Retângulo Vazado. “Escolhi olhar para onde ninguém olha, porque quem está de carro tem que tomar cuidado para não bater no carro da frente”, Loredano sintetiza.

Rio, papel e lápis
Desenhos de Cássio Loredano
Curadoria: Julia Kovensky e Paulo Roberto Pires
Visitação: até janeiro de 2016
De terça a domingo, das 11h às 20h.

Local: Instituto Moreira Salles - Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476
Gávea – Rio de Janeiro - RJ
Telefone: 21 3284 7400