quinta-feira, 26 de julho de 2012

ERNESTO NAZARETH

 

 

Ernesto Nazareth 

 

Ernesto Nazareth (20/03/1863_04/02/1934) nasceu no Rio de Janeiro e aprendeu a tocar piano com sua mãe, Carolina Augusta Pereira Nazareth.

Com apenas 14 anos compôs sua primeira música, a polca-lundu “Você bem sabe”, dedicada a seu pai, o despachante Vasco Lourenço da Silva Nazareth. Em 1880, deu seu primeiro recital e publicou a polca Gracietta.Teve aulas com o professor Lucien Lambert e passou a apresentar-se com frequência nos clubes de sociedade da época, executando composições próprias e eruditas.

Em 1894, o tango Brejeiro, reeditado e gravado pela Banda da Guarda Republicana de Paris, atingiu sucesso internacional, o que permitiu que um número cada vez maior de suas peças fossem editadas.

Seu primeiro concerto realizou-se em 1898 e no ano seguinte foi feita a primeira edição do tango "Turuna".

Em 1905 foi gravada sua primeira obra , o tango "Brejeiro" , com o título "O sertanejo enamorado", com letra de Catulo da Paixão Cearense, pelo cantor Mário Pinheiro. No mesmo período, a Banda da Casa Edson gravou seu tango "Escovado", que fez bastante sucesso. Em 1908, começou a trabalhar como pianista na Casa Mozart e no ano seguinte, participou de recital realizado no Instituto Nacional de Música, interpretando a gavotta "Corbeille de fleurs" e o tango "Batuque".

Na primeira década do século XX, criou fama como pianista da sala de espera do cinema Odeon, onde onde iam muitas personalidades ilustres apenas para ouvi-lo. Foi em homenagem a essa sala que Nazareth batizou sua composição mais famosa, o tango "Odeon" (em parceria com seu aluno e amigo Ubaldo Leal). Aí conheceu o pianista Arthur Rubinstein e o compositor Darius Milhaud, que viveu no Brasil entre 1916 e 1918, como secretário diplomático da missão francesa."Seu jogo fluido, desconcertante e triste ajudou-me a compreender melhor a alma brasileira", declarou Milhaud, que aproveitou trechos de canções de Nazareth em suas composições: "O Boi no Telhado" e "Saudades do Brasil".

Em 1919, começou a trabalhar como pianista demonstrador da Casa Carlos Gomes _ mais tarde Carlos Wehrs_ com a função de executar músicas para serem vendidas, na  época a maneira comum de se divulgar as novidades musicais, pois ainda não havia rádio, os discos eram raros, e o cinema, mudo.

Em 1921, a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro gravou os tangos "Sarambeque" e "Menino de ouro" e a valsa "Henriette". E dois anos depois, Heitor Villa-Lobos dedicou a ele a peça "Choros nº 1", para violão.

 

Em 1922,  a convite do compositor Luciano Gallet, participou de um recital no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, onde executou os tangos "Brejeiro", "Nenê", "Bambino" e "Turuna". Encontrou, porém, muita resistência popular, tendo sido necessária a intervenção policial para garantir a realização do concerto.

Em 1926, a Cultura Artística de São Paulo preparou uma homenagem ao compositor, que ainda deu recitais no Teatro Municipal e no Conservatório Dramático e Musical de Campinas.

Foi um dos primeiros artistas da Rádio Sociedade (atual Rádio MEC do Rio de Janeiro). Em 1930, concluiu sua última composição, a valsa "Resignação" e, no mesmo ano, gravou ao piano a polca "Apanhei-te cavaquinho" e o tango brasileiro "Escovado". Em 1932, apresentou, pela primeira vez, um recital só com músicas de sua autoria em um concerto precedido por uma conferência de Gastão Penalva. Nesse mesmo ano realizou uma turnê pelo sul do país, com grande êxito.

Nazareth resistiu bastante em dar denominações populares a suas composições. Músico de formação erudita, classificava-as como "tangos brasileiros". Uma das primeiras que classificou como "choro" é a famosa "Apanhei-te Cavaquinho", um clássico tocado em diversas formações instrumentais.

Nazareth levou os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa, assim, na fronteira do popular com o erudito e em nada destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacob do Bandolim. O espírito do choro estará sempre presente, estilizado nas teclas do primeiro, ou voltando às origens nas cordas do segundo.

Seu repertório para piano faz parte dos programas de ensino tanto do estilo erudito quanto popular, uma vez que foi uma figura que atuou no limite entre esses dois universos, definido por Villa-Lobos como “a verdadeira encarnação da alma musical brasileira”, que dele disse: "Suas tendências eram francamente para a composição romântica, pois Nazareth era um fervoroso entusiasta de Chopin." 

Entre os grandes admiradores da obra e da atuação como intérprete de Ernesto Nazareth, citam-se Arthur Rubinstein, o russo Miercio Orsowspk, Schelling (que levou suas composições, exibindo-as nos Estados Unidos e Europa), Henrique Oswald e Francisco Braga. Serviu de tema e de inspiração a Luciano Gallet, Darius Milhaud, Enani Braga, Villa-Lobos, Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone e Radamés Gnatalli. Também a música de Nazareth faz parte de trechos de filmes de Fred Astaire, Walt Disney, Woody Allen, entre outros.

 Mário de Andrade assim definiu Nazareth: "compositor brasileiro dotado de uma extraordinária originalidade, porque transita com fôlego entre a música popular e erudita, fazendo-lhe a ponte, a união, o enlace".

Suas composições muitas vezes retrataram o ambiente musical das serestas e choros,  fazendo-o revelador da alma brasileira, ou, mais especificamente, carioca, como comenta o musicólogo Mozart de Araújo: "As características da música nacional foram de tal forma fixadas por ele e de tal modo ele se identificou com o jeito brasileiro de sentir a música, que a sua obra, perdendo embora a sua funcionalidade coreográfica imediata, se revalorizou, transformando-se hoje no mais rico repositório de fórmulas e constâncias rítmico-melódicas, jamais devidas, em qualquer tempo, a qualquer compositor de sua categoria".

Deve-se ainda ressaltar em sua produção a influência de compositores europeus, notadamente de Chopin, compositor cuja obra se dedicou a estudar meticulosamente e cuja inspiração se reflete, sobretudo, na elaboração melódica de suas valsas.

Deixou 211 peças completas para piano. sendo as  mais conhecidas : "Apanhei-te, cavaquinho!…", "Ameno Resedá" (polcas), "Confidências", "Coração que sente", "Expansiva", "Turbilhão de beijos" (valsas), “ Odeon”, "Bambino", "Brejeiro" e "Duvidoso" (tangos brasileiros).

Seus 150 anos, a serem celebrados em 20 de março de 2013, confundem-se simbolicamente com os 150 anos da música popular brasileira, motivo que leva o  Instituto Moreira Salles, a sair na frente das comemorações de 20 de março de 2013, com o projeto “Nazareth 150 anos _ Contagem Regressiva”. O site do projeto (ernestonazareth150anos.com.br) é complementado pelo da cravista Rosana Lanzelotte (ernestonazareth.com.br) onde é possível ouvir todas as obras do compositor.

Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea Tel.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500

O jornal O ESTADO DE S. PAULO, no caderno C2+música, de 17 de março de 2012, publicou uma página muito interessante assinada por João Luiz Sampaio: ERNESTO EM RITMO E PROSA. No site “estadão.com.br/e/nazareth” pode ser ouvida uma ótima interpretação do tango “Desengonçado”