Vik Muniz novamente transformou lixo em arte, só que desta vez a matéria prima foi uma contribuição do público da Rio+20: “Paisagem”, um painel sobre a Baía de Guanabara, feito a partir de material reciclável.
Entre os dias 15 e 22 de junho, o público levou produtos recicláveis, como garrafas plásticas ou latas de alumínio , à tenda em que foi instalada a obra, localizada entre o Museu de Arte Moderna (MAM) e o aeroporto Santos Dumont, no Aterro do Flamengo.
Vik projetou no chão uma fotografia que fez da Baía a partir do Mirante Dona Marta, em Botafogo, em 2009.
O desenho com 25 metros de largura ficou numa tenda com nove metros de pé direito e uma passarela, instalada a quatro metros do chão, permite aos visitantes a vista completa do desenho, que, como define Vik, “não é uma exposição, mas um processo em que a paisagem é criada pelas pessoas”.
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Quando o visitante entra na tenda , vê a seguinte mensagem na porta: "O homem se relaciona com o meio ambiente através da paisagem". Vik Muniz explica: “A paisagem é como o homem internaliza a natureza. Nós possuímos certas limitações de sentidos que fazem com que o meio ambiente assuma um aspecto simbólico e linguístico e possa ser compreendido. Acho que a ideia de você criar uma situação onde você pode lidar com aspectos dessa discussão de uma outra forma, cria uma possibilidade de você começar a entender que existem alternativas. Até para liberar e abrir um pouco a cabeça para achar outras formas de discutirmos isso”.
Outros comentários de Vik Muniz:
“A ideia de você criar uma construção a partir de um material, cuja estética, pela associação ao significado do lixo, já está muito poluída, já impregna tudo que não é usável. Você pegar aquilo e fazer uma coisa bonita, você já está recarregando o potencial desses materiais com a promessa de reutilização. Quase tudo é reutilizável”.
“ Você poder fazer disso uma proposta interativa, e trabalhar com pessoas, ao invés de falar: 'olha só que lindo o que eu fiz', é bastante prazeroso. E também não é muito difícil fazer, você abre o processo a todo mundo, é um truque que eu uso. Você coloca o público dentro do estúdio. É uma situação bastante única, geralmente o artista reserva para si o mérito da feitura. Nesse caso, eu acho muito mais interessante que seja uma experiência mais comum, que todo mundo faça parte, e que eu esteja ali apenas como uma espécie de facilitador”.
“A sensação mais importante de todo o aspecto artístico, é a sensação de transformação, você vê uma coisa virar outra coisa. A gente não dá muita bola quando está vendo uma pintura, por exemplo, e você vê o arranjo daquela substância, que é de origem animal, ou mineral, vegetal, que são os pigmentos, os olhos, o que entra dentro da pintura. Naquele arranjo você vai ver um retrato, ou uma natureza morta. Nesses casos, você não consegue sentir o processo de transformação. Aqui, a metáfora é duplamente importante. Você está transformando uma coisa em outra usando elementos, cuja natureza, como material, já te possibilita essa transformação. A garrafa pet, a lata de alumínio, tudo que está aqui pode ser transformado de outra forma. Todo esse material que está aqui pode dar vida a milhões de outras paisagens”.
“O interessante é que você está fazendo o retrato da cidade dentro dela. É o símbolo dentro do símbolo. Quando você está falando de meio ambiente parece que a gente está falando da natureza que está lá fora. Às vezes dificulta o pensamento e a cognição, de você falar de um sistema dentro dele. É uma proposta lógica bastante complicada. A gente quer trazer este paradigma para dentro desta situação. A cidade sou eu quem faço, é uma experiência para meditar um pouco sobre o símbolo da cidade, como ela pode ser executada”.
A imagem da Baía de Guanabara, projetada no chão, começa a ganhar forma. Eduardo Naddar
Produção da imagem da Baía de Guanabara com lixo reciclável doado pelo visitantes da Cúpula dos Povos.
O "Projeto Paisagem" é uma espécie de cartão postal reciclável, uma mensagem para chamar a atenção para o descarte irresponsável destes materiais no meio ambiente.
André Naddeo: “Se a internet é o palco da interatividade, no mundo artístico a participação popular atende pelo nome de Vik Muniz”.