Octávio Ferreira de Araújo nasceu no dia 22 de março de 1926 na cidade de Terra Roxa SP. Ainda criança mudou-se para a capital, onde se matriculou no instituto profissional masculino, freqüentado também por Flávio Tanaka, Grassmann e outros futuros artistas.
Começou pintando letreiros e tabuleiros, expôs pela primeira vez, com 20 anos, no Rio de Janeiro. No ano de 1947 passou a fazer parte do Grupo dos 19 e dois anos depois começou a freqüentar o curso de gravura da École dês Beaux Arts, na França, onde ajudou Portinari na execução do mural “Pescadores”; trabalhou novamente com Portinari no ano de 1952, dessa vez no Brasil.
Ganhou o prémio de gravura do Salão para Todos (RJ) no ano de 1957 e foi para China. Lá visitou Pequim e Xangai, para onde levou uma exposição de arte brasileira.
Em 1960, na União Soviética, freqüentou o Instituto Repien de Moscou e o Instituto Poligráfico de Leningrado. Casou-se com Clara Gouriánova, que já tinha sido sua interprete de espanhol, no ano de 1961 e teve dois filhos. Após oito anos voltou ao Brasil (1968) e expôs no MASP no ano de 1972, retomando então o rumo de sua carreira.
Sua obra é muito variada, ótimo desenhista com magníficos trabalhos em nanquim. Em suas pinturas e gravuras, Octávio Araújo revela seu interesse por obras de pintores flamengos, alemães e italianos dos séculos XV e XVI, por vezes inspirando-se diretamente em figuras retiradas dessas obras.
Percebe-se em seus trabalhos afinidade com o surrealismo, principalmente pela apresentação de uma atmosfera onírica. Segundo ele próprio, sua obra visa despertar um clima original de mistério e magia no espectador. Nesse sentido, a figura da mulher é associada aos elementos da natureza. Araújo mescla, numa mesma composição, imagens muito diferentes, como as de animais, objetos, escadas ou ruínas, criando com elas cenas inesperadas.
DEPOIMENTOS
"Comecei a desenhar na linha atual quando estava em Moscou, em 1966. Sempre me interessei pela figura. Já fui considerado expressionista, surrealista, realista fantástico, sei lá. Eu me sinto mais à vontade quando falo da arte em geral. (...)”
“A figura feminina se repete na minha obra por várias razões. Uma é básica: na pré-história, a mulher foi despojada de sua condição de ser humano. Ela representava uma força elementar da natureza, em toda a pureza e vigor. Ela perdeu isso. Na minha obra, a figura feminina seria o prenúncio da colocação da mulher em seu lugar antigo, normal. Por isso, às vezes, a figura aparece fragmentada e distorcida. Quanto aos objetos que a rodeiam, têm um sentido mágico que se perdeu. O ser humano usava a magia para se transformar, para se aperfeiçoar. Intuitivamente eu tento despertar em quem vê uma obra minha esse clima original de mistério e magia. Daí o afogado, as ruínas, a mulher fragmentada, a escada, a pérola, o pássaro, o raio, a nuvem escura".
Octávio Araújo a Eduardo Alves da Costa - 1972
Octávio Araújo faleceu em São Paulo, aos 89 anos, dia 26 de junho, respeitado e admirado por críticos e colegas.