É possível imaginar a vida humana sem luz,
cores, música, poesia, amor?
A História nos apresenta manifestações artísticas de povos primitivos:
pinturas rupestres tão lindas feitas por habitantes
de cavernas desprovidas do mínimo necessário;
instrumentos musicais rudimentares usados por esses povos;
poemas como Iliadas e Odisseia, transmitidos
durante séculos por tradição oral, antes da escrita.
Nós, seres do século XXI, temos um tesouro a nossa disposição:
livros, exposições, museus, concertos, balés,
teatros, cinemas, televisão, internet…
É só saber escolher e aproveitar…
Neste pequeno trecho, atribuído a
FERNANDO PESSOA,
encontramos uma boa síntese do valor das coisas:
Não se pode pensar em FERNANDO PESSOA
sem lembrar algumas de suas poesias:
Vaga, no azul amplo, solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando. O que choro é diferente.
Entra mais na alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.
E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.
Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.
Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.
- Fernando Pessoa, 29-3-1931
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Ao longe, ao luar,
No rio uma vela
Serena a passar,
Que é que me revela?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.
Fernando Pessoa, 5-08-1921