Trinta e sete anos após o lançamento da exposição
“a noite, no quarto de cima, o cruzeiro do sul,
lat. sul 23°32’36”, long.w.gr. 46°37’59”,
Evandro Carlos Jardim, paulistano de 75 anos,
e um dos mais prestigiados artistas plásticos brasileiros,
retorna ao MASP com mais 150 peças inéditas,
num total de 250 trabalhos,
entre desenhos, gravuras, pinturas, fotografias
e cadernos de anotações,
pertencentes ao artista e a colecionadores.
“A têmpera Rio Pinheiros,
Figura da Margem, de 2000:
tentativa de captar a passagem dos anos”
A cidade de São Paulo é sempre uma atração
para Evandro Carlos Jardim.
"Não há compromisso forte
com a verossimilhança dos lugares,
mas captar uma atmosfera, seu entorno,
aquele invisível que fica guardado no visível,
o ícone, a terceira imagem",
diz o artista, em relação
a um conjunto de mais de 60 gravuras
a que ele se dedica desde a década de 1970.
“Continuei concentrado
no desenvolvimento da série”, explica.
“São obras sobre São Paulo,
especialmente a Zona Sul,
onde fica meu ateliê,
e também as margens do Rio Pinheiros
e o Pico do Jaraguá, que enxergo do estúdio.”
Nem sempre as referências à cidade
surgem de forma direta e reconhecível.
“Não quero fazer documentação,
mas captar a passagem do tempo,
as transformações e, assim,
apreender a atmosfera da metrópole”,
diz Jardim, que define seu processo criativo
como uma “arqueologia da memória”.
Essas obras possibilitam múltiplas leituras,
associação entre imagens e visões
de perto e de longe
dos mesmos lugares da cidade de São Paulo,
que o artista percorre e estuda há anos.
“Trabalhei na zona sul,
na margem do Rio Pinheiros,
indo de Santo Amaro até o Jaraguá”.
“Não são acontecimentos tratados
de forma literal, mas interpretados,
o que deixa em aberto para se imaginar",
diz o artista.
"Na verdade, trabalho com poucas imagens
porque o que me interessa
são os elementos estéticos intrínsecos às linguagens,
que a plástica explique o conceito
e não seja apenas um recurso paralelo.
São ensaios gráficos,
conversões de luz e cor, uma tentativa".
É um trabalho reflexivo.
"Penso no tempo como maturação,
um contínuo", afirma o artista.
Em suas gravuras,
feitas nas técnicas do metal,
da água-tinta e da xilo, ou nas pinturas
e na tridimensionalidade de objetos escultóricos,
árvores, pássaros, homens, o rio e a paisagem
não se encerram apenas nas belas imagens,
mas ganham ainda mais poesia com as palavras
que Carlos Jardim associa aos trabalhos,
colocando-as na parte inferior
de suas obras gráficas.
Não são títulos , mas "anotações escritas",
"expressão de um sentimento".
"A palavra e a gravura sempre foram
concomitantes", esclarece.
Frases e versos contribuem também
para uma associação da imagem
com os elementos estéticos
que lhe são tão caros:
numa de suas gravuras
do Pico do Jaraguá
(uma marca do artista)
está escrito, em 1979:
"Jaraguá, seus sinais,
manchas e sombras".
A exposição marca também
o lançamento de uma plaquete –
pequeno livro de 26 páginas –
que apresenta 20 imagens recentes
de Jardim
impressas em dois tons de preto.
A mostra promove ainda o diálogo
das obras gráficas de Carlos Jardim
com as pinturas
(um conjunto bem significativo)
que ele também sempre realizou
na técnica da têmpera.