quinta-feira, 21 de junho de 2012

OSWALDO GOELDI: SOMBRIA LUZ no MAM

 

 

O MAM está apresentando uma exposição dedicada à obra de Oswaldo Goeldi (1895-1961), considerado o expoente do expressionismo no Brasil. Também no MAM, a mostra “O ateliê de Goeldi” exibe seu espaço de criação no Leblon,  instrumentos de trabalho e objetos pessoais.

Na maior mostra já feita sobre o artista carioca encontram-se gravuras e desenhos produzidos por ele a partir da década de 20 – “momento em que Goeldi se tornou Goeldi”, como define o curador Paulo Venâncio Filho.

Nesses trabalhos, é possível identificar diferenças entre ele e os outros expressionistas. “Goeldi usa elementos mínimos, não é panfletário nem sentimental; suas obras têm certa sobriedade”, observa o curador. “Ainda assim, explora temas recorrentes entre os artistas do movimento, como a tensão entre a vida e a morte”.

Oswaldo Goeldi nasceu no Rio de Janeiro em outubro de 1895 e morou em Belém do Pará, às margens do Amazonas, até os seis anos de idade.

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Em 1901 vai com a família para Berna,  capital da Suíça, terra de seu pai, o naturalista Emílio Goeldi.

Inicia sua vida artística sob a escura atmosfera da I Grande Guerra. A morte será um tema recorrente em toda sua produção.

 

O MAM estreia nesta sexta-feira (15) a maior retrospectiva do expoente do expressionismo no Brasil Oswaldo Goeldi (1895-1961) Leia mais

  

Em entrevista a Ferreira Gullar (ARTES PLÁSTICAS - Jornal do Brasil. 1957. 12. 1. Suplemento Dominical)      Goeldi declara:

“Em 1919 vim para o Brasil, com minha família. A paisagem brasileira me pareceu estranha, era como se eu nunca houvesse estado aqui. Procurei então assimilar as formas que, com a minha ausência, tinham mudado de fisionomia e de expressão. Desenhei muito para me assenhorear das formas, ambientes, do novo mundo visual que ia ser a matéria de minha expressão. O que me interessava eram os aspectos estranhos do Rio suburbano, do Caju, com postes de luz enterrados até a metade na areia, urubu na rua, móveis na calçada, enfim coisas que deixariam besta qualquer europeu recém-chegado. Depois descobri os pescadores e toda madrugada ia para o mercado ver o desembarque do peixe e desenhava sem parar”.

 

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Goeldi - Garça

 

Outros trechos da mesma entrevista:

“Toda gravura minha é desenhada muitas vezes, tomo apontamentos e só muito depois, às vezes anos, nasce a gravura“.

“Estava saturado do preto-e-branco e procurei a cor. Inicialmente fiz umas aquarelas e depois tentei passar para a gravura. Nas primeiras gravuras em que usei a cor, usei-a com um sentido diferente, meio simbólico, meio fantástico, como na gravura do guarda-chuva vermelho e na do siri vermelho, entre outras. Nessa fase cheguei a fazer gravuras em policromia, com sete, oito cores e tons diferentes. Foi então que reparei que me aproximava da estampagem”.

 

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Samsung

 

“Há quem condene a gravura em cores.
Lembro-me que um crítico italiano - parece que Pallucchini - declarou que gravura tinha que ser mesmo em preto e branco, gravura em cor era desvio. Discordo dessa opinião. Tudo depende da aplicação que se faz na cor. Quando bem aplicada, a cor não prejudica a gravura, antes a enriquece, como no caso dos japoneses, de Gauguin e de Munch. Pallucchini talvez tenha dito aquilo pensando nas experiências feitas pelos alemães, há algum tempo, cujo resultado foi fragoroso: faziam uma estampagem pesada, com linóleo, que parecia mais pintura que gravura”.

“ Há gravadores que parecem se contentar com o preto e o branco extraindo deles ricos efeitos.
Pode-se com o preto atingir efeitos de policromia mas isso não quer dizer que a gravura esteja obrigada a esses elementos. Com a cor consegue-se ótimo resultado. É certo que nem toda técnica recebe bem a cor. Ela fica melhor na lito e na xilo”.

“Nunca poderia fazer uma gravura abstrata. Sempre quero expressar alguma coisa que é anterior às formas que gravarei, que envolve um sentimento qualquer de angústia, de solidão ou de fantástico. Não gravo diretamente, desenho primeiro sobre a chapa, dispondo as zonas de cor, de massa preta, os brancos, e só gravo mesmo quando considero que a idéia está clara, e então gravo dum arranco do começo ao fim”.

Goeldi será sempre um observador que segue colecionando seus segredos, para revelá-los pouco a pouco : peixes, cidades e urubus, abandono e solidão.

 

O MAM estreia nesta sexta-feira (15) a maior retrospectiva do expoente do expressionismo no Brasil Oswaldo Goeldi (1895-1961). Entre os destaques, a xilogravura "Rua", de 1938 Leia mais

 

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 O tema urbano, tão caro aos artistas modernos, em Goeldi, conta a história, não apenas do Rio de Janeiro, mas de qualquer cidade industrializada.

 

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Em sua obra, Goeldi fala sobre a experiência de habitar lugares que não acolhem, sobre a solidão, a incomunicabilidade, o desajuste e o esquecimento.

 

O MAM estreia nesta sexta-feira (15) a maior retrospectiva do expoente do expressionismo no Brasil Oswaldo Goeldi (1895-1961). Entre os destaques, está a obra "Sonâmbula" (sem data) Leia mais

 

 

O MAM estreia nesta sexta-feira (15) a maior retrospectiva do expoente do expressionismo no Brasil Oswaldo Goeldi (1895-1961) Leia mais

 

Nas palavras de Paulo Venâncio Filho, “meio século após sua morte, a obra de Oswaldo Goeldi ainda desafia os clichês que retratam o Brasil como uma espécie de paraíso tropical. Com os recursos limitados da xilogravura e do desenho a lápis ou carvão, mostrou que sob a luz solar havia um mundo em desassossego e desajuste”.

“Este singular expressionista deslocado nos trópicos, que encontrou em Alfred Kubin – com quem se correspondeu – um amigo e admirador, vislumbrou, especialmente na paisagem urbana do Rio de Janeiro, a condição trágica do homem moderno; seu isolamento, sua solidão, sua disjunção com o real. Através da simples oposição entre luz em sombra da xilogravura, com uma economia mínima de elementos, revelou um mundo subterrâneo, às vezes fantástico, às vezes sinistro e ameaçador, e não menos verdadeiro.”

 

Ivan Claudio  comenta: “Quem contempla a obra sombria do artista plástico Oswaldo Goeldi (1895-1961) não imagina que ele a produziu na ensolarada cidade do Rio de Janeiro.”

 

Oswaldo Goeldi: sombria luz (Grande Sala) e O Ateliê de Goeldi (Sala Paulo Figueiredo). Até 19/08, ter. a dom. das 10h às 17h30. Museu de Arte Moderna de São Paulo, Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3. R$ 5,50 (entrada franca aos domingos). Agendamento de visitas: 5085-1313 e email educativo@mam.org.br. mam.org.br  

 

2 comentários:

  1. super interessante sua postagem, e as explicações, de modo que a gente vai notando como o dia a dia influencia o indivíduo em sua essência, e as marcas do seu habitat vem a se reflitir em todos os seus atos, reflexões e na percepção da própria vida.
    adorei o trabalho dele também.
    bjinho milisa

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    1. Obrigada pela atenção Milisa. Gosto muito do trabalho de Goeldi e me dá muito prazer pesquisar e redigir este blog. Beijos,

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