quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A EXPOSIÇÃO DE WILLIAM KENTRIDGE : FORTUNA EM SÃO PAULO NA PINACOTECA

 

 

 

As obras do renomado artista sul-africano, William Kentridge, depois de terem sido exibidas no Instituto Moreira Sales, no Rio de Janeiro, e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, podem ser agora apreciadas em São Paulo, na Pinacoteca, até 10 de novembro. Com 38 desenhos, 35 filmes e animações, 184 gravuras, 31 esculturas e duas vídeo instalações, a mostra inclui séries inéditas do artista.

 

 

 

 

Com curadoria de Lilian Tone, a exposição coloca em evidência o modo de criação pouco convencional do artista em seu estúdio, em Jonnesburgo. Lilian Tone ressalta que “os desenhos de Kentridge são feitos por um processo de sobreposição e apagamento de linhas e traços que vão sendo fotografados para que daí se obtenha sua animação. O resultado desses procedimentos não é um desenho animado tradicional, e nele surgem figuras feitas a carvão e pastel azul. Seu modo de desenhar possibilita continuidades hilariantes: um gato que se transforma em telefone, rostos que se fundem com a paisagem urbana, lágrimas que se tornam peixes, tesouras que se põem a marchar”.

 

 

Kentridge chama seu método de “cinema da idade da pedra”: ele filma quadro por quadro e, em vez de vários desenhos, usa apenas um, geralmente de carvão ou pastel, que vai modificando conforme filma. Apaga, adiciona, subtrai, acumula, redesenha. O método assim marcado por sucessivas mudanças e redefinições, não só se manifesta na percepção da obra como se incorpora à imagem. Na sequência dos desenhos, marcas brutas tornam-se linhas elegantes, que se transformam, com fluidez, em outras imagens. “Meu processo criativo é uma mistura entre uma ideia e os materiais que tenho em mão, como o carvão ou filme ou os efeitos de rasura. É sempre uma conversa entre a mídia e o pensamento”, explica o artista.

 

Os dez filmes da série Drawings for Projections são destaque - William Kentridge/Divulgação

 

 

 

Mais do que apenas o espaço de trabalho, dentro de sua obra o estúdio assume a função de palco, de mise-en-scène e de sujeito, sendo parte de vários trabalhos que estarão na exposição. “O estúdio é um personagem central na prática de Kentridge, um espaço de invenção onde o artista parece quase organicamente incorporado. É um lugar continuamente reanimado por manifestações, uma mistura de linguagens e alegorias que envolvem os diferentes gêneros de seu trabalho”, completa Lilian Tone.

 

 

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A noção de “fortuna”, princípio guiador do processo artístico de Kentridge, e presente no título da exposição, traz o sentido de acaso, de destino, de devir. Segundo o próprio artista, “fortuna é um termo geral que utilizo para essa gama de agenciamentos, algo diverso da fria probabilidade estatística, no entanto fora do âmbito do controle racional”. Fortuna refere-se a uma condição do trabalho artístico em estado constante de construção, a um sentido de descoberta, menos do que invenção, à celebração da excentricidade, mas não em detrimento do engajamento político.

 

 

 

A série de curtas-metragens “Drawings for Projection” deu visibilidade internacional a Kentridge. Segundo o artista, ela é o alicerce de sua produção. Iniciada em 1989, a série possui 10 filmes que são mostrados pela primeira vez em conjunto, acompanhados por 23 desenhos do sul-africano.

 

 

  Como parte de uma apresentação especial, a Pinacoteca inclui paralelamente a obra A Recusa do Tempo, concluída pelo artista no ano passado e ainda inédita no Brasil. Trata-se de uma grande instalação com 5 canais de vídeos incluindo um complexo panorama de som que ocupará toda a área do Octógono. A obra inclui 4 megafones de aço e o que o artista chama de ‘elefante’, uma máquina-objeto concebido pelo artista que parece respirar. A duração do ciclo é de 28 minutos.

 

 

 

 

Entre os destaques da mostra está uma intervenção no livro ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, de Machado de Assis. Kentridge fez uma animação sobre as páginas do livro, à qual chamou de ‘De como não fui ministro d’Estado’. O sul-africano explica a escolha da obra literária: ele a ganhou de presente há décadas e ficou impressionado com o que leu. “Eu pensei em como este homem consegue, em outro continente, no Brasil e não na África do Sul, ter uma sensibilidade que é tão familiar a mim”.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A mostra fica em cartaz até 10 de novembro e pode ser visitada de terças a domingos, das 10h às 18h, com ingressos de até R$ 6, e às quintas, das 10h às 22h, com entrada Catraca Livre das 18h às 22h. Sábados das 11h às 15h.

Pinacoteca do Estado de São Paulo – Pça. da Luz, 2 – Bom Retiro – Centro – SP

Para mais informações:
http://www.pinacoteca.org.br/
Contato: (11) 3324-1000

2 comentários:

  1. Maravilhoso, delicado e agressivo, suave e estridente, sua obra nos confunde.

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  2. Fico contente que você tenha gostado do trabalho do Kentridge. Realmente é uma obra muito interessante e diversificada, Obrigada pelo comentário. Norma.

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